sábado, 8 de fevereiro de 2014

Série e Famílias

   Aproveitando munhas férias, resolvi começar a assistir Parenthood, em boa parte por causa da presença da Lauren Graham no elenco. Não achei que ia ser lá essas coisas, mas no final é uma série gostosa de acompanhar e acho que a segunda temporada conseguiu ser beeem melhor que a primeira. O que me irritou bastante na séria é o que me irrita bastante em toda série/novela que trata sobre relações familiares: o machismo. Acho ridículo que em pleno século XXI o cara ~perfeito~ da série seja retratado como o macho alfa provedor da casa que resolve todos os problemas sozinho e que mesmo mostrando uma situação "inversa", da Julia, que trabalha enquanto o marido fica em casa e cuida da filha, ainda passa a imagem de que Julia não é uma mãe tão boa quanto Adam é um bom pai e que ela se sente perturbada por não estar perto da menina, mas Adam vive bem com exatamente a mesma situação. Outra coisa é a necessidade de afirmar que alguém tem que ficar em casa. Só eu conheço relacionamentos em que os dois trabalham e está tudo bem? Me lembrou os relacionamentos de Modern Family que conseguem ter um perfil marcado por papéis de gênero até no casamento homossexual de série. E ainda tem o Zeek que eu não tenho palavras pra descrever o quanto ele é machista, inclusive dizendo abertamente que não leva nenhuma das meninas da família para acampar porque "isso é coisa de homens". No mínimo, o machismo explícito dele poderia ser um pouco mais questionado e um pouco menos atenuado pelo velho "ah, ele é babaca mais lá no fundo tem um bom coração", seria uma demostração de respeito com as mulheres.
   Achei bastante frustrante essas representações ainda mais combinadas com as constantes desapontamentos da Sarah. Quer dizer, justamente a mãe solteira é a que tem mais problemas com todas as vertentes da sua vida? Bem frustante ainda mais depois de ver a mãe solteira interpretada pela mesma atriz em Gilmore Girls sendo tão bem sucedida. Mas esse ponto melhorou demais na segunda temporada. Sarah tem vários momentos fofinhos com a filha, com Adam, com o namorado lá que era chefe dela. Fora que conhecemos o fato de que o ex dela e pai de Amber e Drew não é só um pai ausente e irresponsável, mas alcoólatra e viciado em drogas. Acho que isso trouxe um pouco mais de densidade para a história de Sarah, inclusive foi a volta dele que fez ela escrever sua peça.
   Toda a história do Max é interessante e ele o personagem da família do Adam que eu mais gostei, apesar da Haddie ter chamado mais atenção na segunda temporada com o relacionamento com Alex. Gosto bastante da Jasmine também, bem resolvida, muito mais madura e segura de si do que o Crosby, chamou muito mais atenção que ele. Os relacionamentos mais legais acabam sendo os dos quatro irmãos, onde tem uma cumplicidade bacana e os conflitos se resolvem logo. Talvez se a série fosse sobre qualquer um dos núcleos individualmente fosse bem entediante, mas juntos vale a pena parar para assistir.

 
 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Espaço público e preconceito

Como você identifica um arruaceiro? Quais as características principais de um potencial assaltante? Como sei se alguém é "suspeito"? Deveria ser difícil responder a essas perguntas, mas eu e você aprendemos muito bem a responder essas questões. Suspeito é aquele indivíduo negro, com roupas simples.  Potencial assaltante e o indivíduo negro de roupas simples em um ambiente de rico. Arruaceiro é o individuo jovem, negro de roupas simples em um ambiente de rico. Se eu sei e você sabe, é claro que a polícia também sabe e não tem medo de prender nenhum desses indivíduos, especialmente os dois últimos. Até porque convenhamos, rolezinho é uma palavra pra lá de estranha mas justifica barrar os seus usuários na porta do shopping? Parece que sim. Afinal pode haver tumulto, que pra quem não sabe segundo a definição do Dicionário Aurélio Da Classe Média consiste em um aglomerado de jovens (pobres) dentro de um estabelecimento (de rico) que obviamente só podem estar lá para roubar. Preconceitos sociais obviamente justificam barrar um determinado grupo de pessoas na entrada desse estabelecimento e justificam que essas pessoas sejam detidas pela polícia mesmo que elas não tenham roubado ou agredido ninguém. Afinal como esses "arruaceiros" ousam invadir o SEU espaço público?  Como é que se pode esperar que ricos e pobres compartilhem o mesmo ambiente? É uma situação inaceitável. "Tem que meter pau mesmo", "se não gostou leva pra casa". 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Números e Realidade

   Apesar de nunca ter me acertado muito bem com a matemática, reconheço que ela tem sua importância no mundo. Em muitas áreas ela é o suporte para o entendimento de como as coisas funcionam. Mas... Não acredito que ela seja a resposta definitiva em especial para situações que envolvem fatores humanos ou biológicos e ainda mais quando envolvem os dois juntos. Digo isso porque vi num jornal velho a seguinte notícia: "O fator masculino da menopausa", onde um biólogo diz que talvez as mulheres entrem na menopausa numa determinada idade porque homens preferem mulheres jovens desde o tempo das cavernas. E ele se baseia em números para chegar à essa conclusão. Claro que pesquisas que falam "desde o tempo das cavernas" não podem ser levadas muito a sério e no próprio jornal se dizia que não há provas dessa maluquice, mas pesquisas que apontam como explicação para fatos os números estão sempre por aí. 
   Utilizar cálculos de estatísticas para conectar um fator social (homens preferirem as jovens) com um fator biológico (mulheres entrarem na menopausa) é uma estratégia bastante comum. Essa seção da super interessante é recheada de exemplos dessas pesquisas. Em todas elas são apresentados números de pessoas que fizeram isso ou aquilo, nessa ou naquela situação e levam a conclusão do título. Obviamente são levadas como uma brincadeira pela revista, ao contrário da matéria sobre o fator machista masculino da menopausa. O problema não é calcular quantos homens preferem mulheres jovens, o problema é parar por aí e não se aprofundar no porque de se ter obtido esses resultados. O biólogo da matéria no jornal não leva em conta que vivemos numa sociedade machista que valoriza as mulheres jovens e que os homens podem, sei lá, serem influenciados por ela durante suas vidas. Ele toma como verdade que gostar das jovens é algo natural, estabelecido pela evolução e essa é a sua base para o resto da pesquisa. Não faço ideia se os nossos colegas pré-históricos realmente preferiam mulheres jovens (nem se todos os homens de todas as épocas e em todas as culturas tinham essa mesma ideia), mas sei de muitos outros motivos que podem levar a esses dados. Também consigo lembrar que, ao contrário do que ele diz, não são só humanos, mas todas as fêmeas já nascem com o número definitivo de folículos ovarianos, que um dia acabam e não é essa a definição de menopausa?
    Números são fatos, mas não são definitivos. Não dá pra se tirar conclusões apenas deles e acho que eles ficariam mais felizes em não serem usados para provar teorias misóginas, que pudessem servir de reflexão para mudanças e não de motivação para conclusões descabidas.